Wildlife often overlooked in war zones: Brazilian researcher leads project to study biodiversity loss and help large mammals return to post-conflict Angola

UFJF

4/9/20257 min read

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The impacts of armed conflict on wildlife are rarely part of the conversation during war. In Angola, devastated by a civil war that lasted from 1975 to 2002, savanna mammal populations declined by 77%. Now, a global research project led by a Brazilian scientist trained at UFJF aims to shed more light on how conflict affects biodiversity—and to help large mammals return to protected areas that remain inaccessible due to landmines.

Biologist and zoologist Dr Franciany Braga Pereira submitted the project while working as a postdoctoral researcher at UFJF. Her proposal received €220,900 (around R$1.37 million) in funding through the prestigious and highly competitive Marie Skłodowska-Curie Individual Fellowship.

Her project earned the highest score among all selected proposals, granting Franciany the opportunity to to carry out her research at Manchester Metropolitan University (MMU).

“The project will conduct an in-depth assessment of biodiversity in Angola, a country that endured 27 years of civil war and still has vast regions contaminated by landmines,” Franciany explains. Fieldwork will take place in Cabinda province (north Angola), the Okavango Delta near Botswana, and other biodiversity-rich landscapes across the country. Having already conducted research in Angola in 2015, she is set to return in 2025.

Beyond understanding how conflict impacts biodiversity, the project also supports efforts to clear landmines in border zones, enabling the return of large mammals displaced during the war. This work is carried out in partnership with the international humanitarian organisation Halo Trust.

Field research will employ infrared drones that detect animals through their thermal signatures. According to Franciany, the project will be carried out in close collaboration with local communities and both national and international NGOs.

“This research brings together science, technology and local knowledge to better understand what happens to biodiversity in times of war—and how we can protect it.”

The impacts of war

Franciany explains that in Angola, armed conflicts have primarily affected biodiversity indirectly, through broader social and economic disruption. During wartime, environmental agencies often suffer from budget cuts and staffing shortages, creating opportunities for illegal activities such as poaching and wildlife trafficking. At the same time, military-grade weapons like AK-47s became easily accessible and were used extensively to hunt wild animals.

This led to cascading effects: animal body parts, including elephant ivory, were sold on illegal markets and used to fund armed groups, contributing to the decline of large mammals. Explosives and landmines also directly harmed wildlife, causing serious injuries and contaminating soil and water.

“The constant noise from military operations and explosions causes ecological disturbances and displaces species,” she adds. These effects make biodiversity conservation in conflict zones extremely challenging, requiring coordinated efforts to protect both ecosystems and species amid social and political instability.

Franciany notes that, in recent years, over 80% of the world’s biodiversity hotspots—regions in urgent need of conservation—have experienced some form of armed conflict.

The project will run for two years, but as Franciany points out, “the most exciting part is the potential for long-term impact.” The goal is for the initiative to continue for decades, helping reduce the damage caused by conflict.

“Developing this project has been incredibly enriching, as I’m collaborating with international organisations like Halo Trust and the Civil War Department at King’s College London, both of which play essential roles in addressing the impacts of armed conflict on wildlife and local communities.”

A remarkable academic journey

Franciany graduated in Biological Sciences from UFJF in 2014 and pursued postgraduate studies at the Federal University of Paraíba, the University of East Anglia (UK), and the University of Barcelona (Spain). She returned to UFJF in 2023 for a second postdoctoral position within the Graduate Programme in Biodiversity (PPGBio), which she completed in 2024 under the supervision of Professor Artur Andriolo—who also mentored her during her undergraduate studies.

During that time, she was encouraged to apply for the international fellowship. Given the prestige and competitiveness of the Marie Skłodowska-Curie programme, Franciany initially didn’t expect to succeed on her first try and hoped only to score the 70 points required to reapply in 2025. To her surprise, not only was her proposal accepted, it received the highest score among all 2024 submissions.

The fellowship is funded by a UK-based scheme that allowed Franciany to receive a Global Talent Visa and choose a leading UK university for her research. The funding covers her salary, relocation and family support, research activities, and professional training.

At Manchester Metropolitan University, Franciany is part of the Department of Natural Science, where she conducts research and teaches. She also continues to supervise master’s student Juelma Santos at UFJF, whose work focuses on the migration patterns of forest elephants in Angola, and Camily de Oliveira Mota at Federal University of Viçosa (UFV), whose work focuses on the impact of armed groups on the Amazonian biodiversity.

Franciany hopes to return to UFJF and UFV periodically to teach postgraduate courses and share insights from her ongoing research and experience at MMU.

She highlights the opportunity to collaborate with researchers from top international institutions, including Professor Julia Fa (MMU) and Professor Robert Pringle (Princeton University, USA). Her project is supported by the Horizon Europe Guarantee Fund.

PT

Em uma guerra, pouco se fala sobre como a vida selvagem é afetada por conflitos armados. Em Angola, assolada por uma guerra civil que se estendeu de 1975 a 2002, houve redução em 77% das espécies de mamíferos que vivem em savana. Investigação internacional liderada por pesquisadora formada pela UFJF objetiva revelar mais aspectos sobre como as disputas impactam a biodiversidade e auxiliar no retorno de grandes mamíferos a áreas de preservação, impedidos por campos minados.

A bióloga e doutora em zoologia Franciany Braga Pereira submeteu, no período em que atuou como pesquisadora pós-doutoral na UFJF, o projeto de pesquisa que recebeu o aporte de 220,9 mil euros (cerca de R$ 1,37 milhão). A profissional obteve os recursos pelo prestigiado e concorrido prêmio Marie Skłodowska-Curie Individual Fellowship.

Seu projeto obteve a nota mais alta entre as propostas aprovadas, e Franciany, também graduada em Ciências Biológicas pela UFJF, conquistou a oportunidade de escolher uma universidade do Reino Unido para desenvolver a pesquisa e dar aulas, a Universidade Metropolitana de Manchester (MMU, na sigla em inglês).

“A pesquisa fará uma análise detalhada da biodiversidade em Angola, país que passou por 27 anos de guerra civil e que ainda conta com minas explosivas em vastas regiões importantes para a biodiversidade”, aponta Franciany. O estudo será realizado na província de Cabinda, no Norte do país, e no Delta do Okavango, próximo a Bostuana, e outras áreas de paisagens e biodiversidade no país. A profissional já realizou pesquisas sobre o tema, em Angola, e retorna ao país ainda em 2025.

Além da investigação sobre o impacto de conflitos na biodiversidade, os resultados do projeto irão auxiliar ainda na retirada de minas em zonas fronteiriças do país africano para que grandes mamíferos que deixaram Angola, nos anos de guerra, possam voltar aos seus ambientes naturais. Essa ação ocorre em parceria com a organização internacional Halo Trust.

No trabalho em campo, serão utilizados drones infravermelhos que detectam os animais por sua assinatura térmica. Conforme Franciany, as atividades irão ocorrer em estreita colaboração com comunidades locais, ONGs nacionais e internacionais.

“Assim, essa pesquisa une ciência, tecnologia e saberes locais para compreender melhor o que acontece com a biodiversidade em tempos de guerra e como podemos protegê-la.”

Impactos

Como explica a pesquisadora, os conflitos armados em Angola afetaram a biodiversidade principalmente de forma indireta, sendo consequência das transformações socioeconômicas nas regiões em guerra. Durante esses períodos, os órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental sofrem cortes orçamentários e redução no número de agentes, o que favorece práticas ilegais, como a caça e o tráfico de animais. Somado a isso, o acesso a armas de guerra, como AK-47, tornou-se fácil, as quais foram utilizadas para abater animais silvestres de modo intenso.

Em efeito cascata, as partes corporais dos animais abatidos foram comercializadas, como no mercado clandestino de marfim de elefantes, e amplamente utilizados para financiar grupos armados. Essa prática contribui para o declínio de grandes mamíferos.

Além disso, o uso de explosivos e minas terrestres, nas áreas de conflito, provoca impactos diretos na fauna, resultando em mutilações de animais de grande porte e na contaminação do solo e da água.

Franciany Braga já realizou estudos, em Angola, em 2015; pesquisa objetiva conciliar ciência e saberes locais (Foto: Arquivo pessoal)

“O ruído constante de operações militares e explosões também causa distúrbios ecológicos, levando ao deslocamento de espécies”, acrescenta. Esses efeitos tornam a conservação da biodiversidade em regiões de conflito um grande desafio, exigindo ações coordenadas para proteger os ecossistemas e as espécies em meio à instabilidade social e política.

Conforme Franciany, nos últimos anos, mais de 80% dos locais que concentram alta biodiversidade do mundo e com urgência de políticas de conservação enfrentaram algum tipo de conflito armado.

O projeto terá duração de dois anos, mas “o mais empolgante”, como define a profissional, é o potencial de ações gerarem impacto a longo prazo. A intenção é que ele se estenda por décadas para auxiliar na redução dos impactos provocados pelos conflitos.

“A experiência de desenvolver este projeto tem sido extremamente enriquecedora, pois estou colaborando com organizações internacionais, como a Halo Trust e o Civil War Department do King’s College London, que desempenham um papel essencial na mitigação dos impactos dos conflitos armados sobre a fauna e as populações humanas.”

Trajetória

Graduada em Ciências Biológicas pela UFJF, em 2014, Franciany seguiu a carreira acadêmica com pós-graduações pelas universidades Federal da Paraíba, de East Anglia (Reino Unido) e de Barcelona (Espanha). Em 2023, voltou à UFJF, onde iniciou um segundo pós-doutorado como pesquisadora, encerrado em 2024, no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade (PPGBio), onde foi supervisionada pelo professor Artur Andriolo, que também a orientou na graduação.

Nesse retorno, foi incentivada a se inscrever no prêmio internacional. Conta que, devido ao alto prestígio e concorrência do Marie Skłodowska-Curie Individual Fellowship, inicialmente não esperava a aprovação em sua primeira tentativa – algo usual entre muitos candidatos – mas que, pelo menos, obtivesse 70 pontos. Essa pontuação iria lhe permitir tentar novamente em 2025. Para a sua surpresa, ela não só foi aprovada na primeira submissão, como também recebeu a nota mais alta entre os projetos de 2024.

O financiamento veio por fundo do Reino Unido, permitindo que a pesquisadora recebesse um visto de talento global e escolhesse uma universidade de renome no país para atuar. Assim, o financiamento cobre salário da profissional, auxílio para mobilidade e familiar, além de atividades de pesquisa e capacitação da profissional.

Na Manchester Metropolitan University (MMU), a profissional está vinculada ao Departamento de Ciências, onde realiza pesquisas e dá aulas. Mas continua a orientar a aluna de mestrado Juelma Santos no PPGBio da UFJF. A estudante pesquisa a dinâmica de migração dos elefantes-da-floresta, com base em análises demográficas, sociais e ecológicas.

Franciany também pretende lecionar disciplinas na pós-graduação durante visitas à UFJF, onde poderá compartilhar os resultados e os avanços mais recentes de sua pesquisa e da experiência na universidade de Manchester.

A pesquisadora destaca ainda a oportunidade de aprender com pesquisadores de grandes instituições internacionais. Conta com o apoio da professora sênior Julia Fa, da MMU, e do professor sênior Robert Pringle, da Universidade Princeton, nos Estados Unidos. O projeto é financiado pelo Fundo Horizon Europe Guarantee.